Volta às aulas sem vacina: especialista explica se crianças já podem ir para a escola

Saúde
06 de Janeiro, 2022
Volta às aulas sem vacina: especialista explica se crianças já podem ir para a escola

Após o anúncio do Ministério da Saúde de que crianças de 5 a 11 anos serão vacinadas contra a COVID-19 em janeiro de 2022, o que não faltaram foram dúvidas, principalmente relacionadas à volta às aulas. 

Isso porque, de acordo com o ministério, a vacinação será feita em ordem decrescente de idade, ou seja, das crianças mais velhas para as mais novas. Serão priorizadas aquelas quem têm comorbidade ou deficiência permanente. Dessa forma, com o ano letivo prestes a começar, muitas crianças ainda estarão sem o imunizante no início da volta às aulas. 

Além disso, a oferta de vacinas para as crianças parece bem menor do que a quantidade de pessoas nessa faixa etária no Brasil. A estimativa é de que 3,7 milhões de doses cheguem ao país. Porém, segundo o IBGE, o Brasil tem cerca de 20,5 milhões de crianças com essa idade.

Para saber se a volta às aulas é segura para as crianças, conversamos com o pediatra e infectologista Marcelo Otsuka, que também é coordenador do Comitê de Infectologia Pediátrica da Sociedade Brasileira de Infectologia.

Afinal, a volta às aulas é segura?

Para o infectologista, sim. De acordo com Marcelo, “vacinar as crianças o mais brevemente possível é o melhor que podemos fazer por elas, e isso nós não podemos deixar passar”. No entanto, ele relembra o tanto que as crianças já sofreram ao longo de quase 2 anos de pandemia. “As crianças foram prejudicadas no ensino. Para grande parte delas, foi uma perda irreparável. Além de serem vítimas de agressão e terem problemas com a alimentação, já que muitas delas tinham na escola sua principal refeição. São várias situações que indicam que as crianças precisam sim, ir para a escola”.

Além disso, com exceção dos casos assintomáticos, é possível evitar a transmissão do coronavírus, incluindo sua nova cepa, a Ômicron. “Se alguém da casa estiver doente ou exista algum caso sugestivo de covid ou influenza, ou se a própria criança estiver doente, ela não deve frequentar a escola. Deve ficar em casa para impedir a transmissão”, afirmou o médico.

Por fim, outra sugestão é que, se possível, as famílias fiscalizem todos os procedimentos de prevenção adotados pela escola, como o distanciamento social, o uso de máscaras e álcool em gel, bem como a higiene nos banheiros. A escola também deve colaborar alterando os horários de entrada e saída dos alunos, evitando assim que todas as turmas entrem ou saiam ao mesmo tempo, assim como nos momentos de refeições coletiva.

A importância da vacinação em crianças

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou, no dia 16 de dezembro, a vacinação da Covid-19 em crianças de 5 a 11 anos com o imunizante da Pfizer. A aprovação foi comemorada por especialistas e sociedades médicas, tendo em vista a quantidade considerável de óbitos por essa doença entre os mais jovens nos últimos meses. De acordo com a Sociedade Brasileira de Infectologia, cerca de 2,5 mil crianças e adolescentes brasileiros morreram de covid-19 desde o início da pandemia.

Além disso, a covid-19 mata mais do que todas as demais doenças infecciosas contempladas no calendário de vacinação infantil. Nesse sentido, segundo a ANVISA, duas doses da vacina para crianças de 5 a 11 anos evita casos graves da doença, além de óbitos. O imunizante já está sendo aplicado nos Estados Unidos, Áustria, Alemanha, Chile, China e Colômbia.

Crianças receberão dosagem menor

As crianças receberão, assim como os adultos, duas doses de vacina com intervalo de 21 dias. No entanto, a dosagem equivale a um terço da dose usada nos adultos. As crianças receberão uma dosagem de 10 microgramas, enquanto quem tem 12 anos ou mais, a dose é de 30 microgramas. Além disso, com o intuito de evitar possíveis confusões na hora da aplicação, o frasco da vacina para crianças terá uma cor diferente daquela aplicada em adultos. Ainda não há dados para dizer se a dose de reforço será necessária para as crianças.

A vacina também tem esquema de conservação diferente, já que pode ficar por 10 semanas em temperatura de 2ºC a 8ºC. Já a vacina aplicada em pessoas acima de 12 anos pode ser guardada por quatro semanas após o descongelamento. As crianças terão ainda que receber a primeira e a segunda dose da mesma vacina, ou seja, não podem “misturar” as vacinas entre uma dose e outra.

Leia mais: Covid em crianças: Quais os cuidados a serem tomados?

Volta às aulas e os próximos passos da vacinação em crianças

A data da chegada do imunizante nos postos de vacinação já está marcada, bem como a data de início das aulas na maioria dos estados brasileiros. São Paulo, por exemplo, iniciará o ano letivo no dia 2 de fevereiro. Para a vacinação, haverá um treinamento completo das equipes de saúde que farão a aplicação da vacina. Dessa forma, evita-se a aplicação de dose inadequada e da preparação incorreta do produto para essa faixa etária.

Leia mais: Gestantes passam anticorpos contra Covid-19 para os bebês

Além disso, a vacinação das crianças deverá ser feita em ambiente específico e separado da vacinação de adultos. Se não houver a infraestrutura necessária para essa separação, deverão ser adotadas medidas para evitar erros de vacinação. Dessa forma, a vacinação em postos drive-thru deverá ser evitada. Do mesmo modo, por precaução, as crianças não poderão receber a vacina da Covid no mesmo dia que outra vacina do calendário infantil. De acordo com a Anvisa, a recomendação é esperar um tempo mínimo de 15 dias após a aplicação da vacina da Covid.

A Anvisa também frisou que medidas não farmacológicas de prevenção contra a Covid-19, como distanciamento social, lavagem e higienização das mãos e uso de máscaras, continuam recomendadas.

Fonte: Marcelo Otsuka, Pediatra e Infectologista. É Coordenador do Comitê de Infectologia Pediátrica da SBI e Membro Efetivo do Comitê de CCIH da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo.

Sobre o autor

Fernanda Lima
Jornalista e Subeditora da Vitat. Especialista em saúde

Leia também:

Saúde

Infarto aumenta o risco de desenvolver complicações de saúde a longo prazo

Pessoas com histórico de infarto têm mais risco de desenvolver outros problemas de saúde a longo prazo, como insuficiências cardíaca e renal, arritmias e até depressão,

Saúde

Infarto aumenta o risco de desenvolver complicações de saúde a longo prazo

Problemas como insuficiências cardíaca e até depressão são mais frequentes em quem sofreu um ataque cardíaco

Bem-estar Equilíbrio Saúde

“É impossível ser feliz sozinho”: cultivar relacionamentos está entre os segredos para viver mais

Indo na direção contrária da longevidade, um estudo revelou que quase ¼ das pessoas em todo o mundo se sentem sozinhas