Variante Ômicron: o que sabemos até agora?
Identificada pela primeira vez na África do Sul, em novembro do ano passado, a variante Ômicron do SARS-CoV-2 foi considerada preocupante pela Organização Mundial da Saúde (OMS) pela rápida capacidade de se espalhar. De fato, em poucos meses, ela se tornou a cepa dominante, provocando uma explosão de casos de covid-19 em diversos países, inclusive entre pessoas vacinadas ou que haviam se infectado anteriormente.
No Brasil não foi diferente. Desde que foi identificada, a Ômicron causou um recrudescimento na pandemia e interrompeu o movimento de queda no número de casos e mortes. No final de janeiro, por exemplo, ela já era responsável por 99,7% das amostras positivas sequenciadas no estado de São Paulo. E, mais recentemente, foi identificada a subvariante BA.2, que também tem se mostrado mais contagiosa. Mas, afinal, o que se sabe até o momento sobre a transmissibilidade e a gravidade da doença que ela causa?
Gravidade da variante ômicron
De acordo com o infectologista Fernando Gatti de Menezes, coordenador médico do Serviço de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital Israelita Albert Einstein, são vários fatores que tornam a Ômicron uma variante preocupante. Um deles é ela possui cerca de 50 mutações na proteína Spike, com impacto direto na imunidade. Isso porque, explica Menezes, a proteína Spike do vírus é quem tem o papel de “levá-lo” para dentro da célula. Quanto maior for o número de mutações nessa área do vírus, menor é a capacidade do sistema imunológico em reconhecê-lo.
“Nosso organismo está preparado para reconhecer o vírus original ou até mesmo as variantes Delta, P.1 [Gamma]. Mas, quando a proteína sofre muitas mudanças, o reconhecimento é mais difícil”, explica o infectologista. Segundo ele, a variante Delta, por exemplo, tinha menos de dez mutações na proteína Spike. “Quando você olha uma ‘fotografia’ da Ômicron no microscópio é um absurdo a quantidade de alterações presentes”, afirma.
Escape do sistema de defesa
Dois estudos recentes reforçam a relação entre as mutações e o escape imunológico:
Pesquisadores da Escola de Saúde Pública de Harvard, nos Estados Unidos, analisaram a base de dados de jogadores da liga norte-americana de basquete (NBA) e, ao compararem os resultados de testes positivos de jogadores infectados, constataram que aqueles contaminados com a variante Delta tinham uma quantidade maior de vírus no organismo do que os infectados pela Ômicron.
Os resultados sugerem que a transmissibilidade não está associada à quantidade de vírus liberados pela pessoa infectada, mas pela capacidade que essa cepa tem de escapar da imunidade gerada pelas vacinas ou pela infecção natural.
Já os pesquisadores da Universidade de Genebra, na Suíça, mediram a quantidade de partículas virais presentes em exames de 150 pessoas contaminadas e não encontraram diferenças significativas da carga viral entre pessoas vacinadas e infectadas com a Ômicron ou com a Delta.
O fato de alguns estudos afirmarem que a Ômicron infecta mais rapidamente os tecidos do trato respiratório superior em vez dos pulmões, o infectologista Menezes considera esse fator menos importante no combate ao coronavírus. “Isso não muda a forma de prevenção. Se ela está mais presente no nariz ou na garganta, não importa. O que precisamos é continuar usando máscara corretamente, o distanciamento social e a higienização constante das mãos”, explica.
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Disparada de casos da variante ômicron
Segundo dados do Painel Coronavírus, do Ministério da Saúde, entre 26 de dezembro de 2021 e 1º de janeiro de 2022 foram registrados 22.283 novos casos de covid-19 no Brasil e 670 óbitos. Um mês depois, entre 23 e 29 de janeiro, já sob o efeito da Ômicron, foram 1.305.447 novos casos e 3.723 mortes. O número de casos aumentou 58 vezes, enquanto a quantidade de mortes foi cinco vezes maior.
“As mortes sempre vão existir, mas o que observamos é que a taxa de mortalidade entre contaminados pela Delta girava em torno de 8% e agora com a Ômicron está em torno de 2% a 3%. É uma explicação matemática. Quanto maior o número de pessoas contaminadas ao mesmo tempo, mais pessoas possivelmente vão morrer. Mas não podemos olhar o número absoluto e, sim, a proporção”, diz.
Menezes destaca ainda que os números demonstram como essa variante é mais transmissível do que a Delta e o vírus selvagem. “Mas, felizmente, o que temos visto são formas mais leves e moderadas. Muitas vezes as pessoas ficam assintomáticas, apesar do escape imunológico”, afirma.
Novas vacinas
Na opinião do infectologista, apesar de a vacinação atual promover proteção contra os casos graves da infecção, é preciso o desenvolvimento de novas vacinas que sejam adaptadas às cepas mais prevalentes – assim como já acontece anualmente com a vacina contra o vírus Influenza, causador da gripe. “Já completamos um ano do início da nossa imunização. Assim como fazemos com a gripe, é preciso adaptar as vacinas com a inclusão de novas cepas. As farmacêuticas já estão trabalhando nisso”, afirmou.
(Fonte: Agência Einstein)