Treino aeróbico noturno traz benefícios para os hipertensos

Movimento Saúde
05 de Outubro, 2021
Treino aeróbico noturno traz benefícios para os hipertensos

Um estudo publicado na revista Blood Pressure Monitoring mostrou que o treino aeróbico noturno pode ser uma ótima opção para os hipertensos. Isso porque os benefícios dos exercícios físicos para pacientes que convivem com a chamada pressão alta podem ser potencializados se estes forem praticados entre 18h e 21h.

A análise teve como foco a taxa de recuperação cardíaca (TRC), que a grosso modo pode ser explicada como a medida de redução da frequência cardíaca após a interrupção do exercício. O treino noturno melhorou tanto a fase rápida (medida 60 segundos após o ápice do esforço físico) quanto a fase lenta (medida 300 segundos depois) da TRC.

De acordo com Leandro Campos de Brito, autor do estudo, aproximadamente 25% das pessoas não são responsivas aos exercícios do ponto de vista do controle da pressão e, para elas, são necessárias estratégias diferentes das convencionais. Por exemplo, a realização de exercícios em momentos que possam maximizar seus benefícios.

“Há dois ramos no sistema autonômico cardíaco: o simpático e o parassimpático. A grosso modo, o parassimpático faz o coração desacelerar e o simpático faz o órgão acelerar e bater mais forte. Espera-se que, após um período de treinamento com exercícios físicos, o poder do parassimpático aumente e o do simpático diminua. A TRC nos permite inferir em como esse comportamento ocorre por meio da mensuração realizada nos primeiros 60 segundos e 300 segundos após o fim de um teste máximo de esforço cardiopulmonar, sendo que essa última resposta sugere tanto a atuação do nervo parassimpático, recuperando o compasso do coração, quanto a desaceleração do simpático, cuja atividade foi acumulada durante o exercício”, explica Brito.

O estudo sobre treino aeróbico noturno e hipertensos

Segundo o grupo de cientistas, o fato de ambas as fases (rápida e lenta) da TRC terem aumentado com o treino noturno indica que praticar exercícios a essa hora do dia melhora ambos os ramos do sistema autonômico cardíaco. Além disso, os resultados mostram que o efeito benéfico não é limitado ao momento em que os voluntários se exercitaram.

O experimento envolveu 49 homens hipertensos de meia-idade, medicados por no mínimo quatro meses com o mesmo tipo de fármaco e a mesma posologia. Dessa maneira, eles foram alocados aleatoriamente em três grupos: o de treinamento matinal (das 7h às 9h), o de treinamento noturno (das 18h às 21h) e o grupo-controle (sem treino aeróbico).

Assim, o treino foi realizado três vezes por semana durante dez semanas. Os grupos que realizaram o treino pedalaram na bicicleta ergométrica (30 minutos nas duas primeiras semanas e 45 minutos nas demais, com intensidade moderada) e o grupo-controle fez alongamento (30 minutos). Nas avaliações iniciais e finais do estudo, a taxa de recuperação cardíaca dos voluntários foi mensurada 60 e 300 segundos após o fim do exercício.

“Para o grupo-controle, optamos por uma atividade que não traria impacto adicional de benefício na variável estudada. Por isso esse tipo específico de alongamento. Pois o objetivo era fazer com que o grupo-controle fosse à EEFE-USP o mesmo número de vezes que o grupo que treinou, tivesse a pressão aferida o mesmo número de vezes, encontrasse os pesquisadores nos mesmos dias, se sentisse cuidado na mesma magnitude”, explica Brito.

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Possíveis razões

Os pesquisadores estão tentando entender o motivo pelo qual os hipertensos tem mais benefícios cardíacos treinando pela noite. No primeiro trabalho, descobriram que a sensibilidade barorreflexa foi aumentada com o treino.

“Esse mecanismo avalia, a cada vez que seu coração bate, se a pressão subiu ou desceu demais e corrige. O treino da noite e o da manhã melhoraram a sensibilidade desse mecanismo, mas o da noite melhorou mais. Entretanto, é uma medida espontânea, feita com a pessoa em repouso”, diz Brito.

Sendo assim, ele explica que as funções cardiovasculares de um indivíduo variam durante as 24 horas do dia. “O esperado é que pela manhã, ao acordarmos, nosso valor de pressão arterial aumente, atingindo um primeiro pico em torno das 10h. Então, esse valor estabiliza e reduz no meio da tarde, perto das 15h. Um segundo pico acontece entre 18h e 20h. Depois disso, há uma redução progressiva. Estamos propondo que esse exercício no período da noite estaria encontrando uma janela de oportunidade para uma melhora mais expressiva.”

Segundo Brito, à noite o indivíduo apresenta maior sensibilidade barorreflexa e menor atividade simpática. “Além disso, por conta do ciclo de 24 horas, à noite ele começa a ter uma redução de batimentos cardíacos e também apresenta menor resistência nos vasos sanguíneos. É um momento em que o estresse sobre o sistema cardiovascular está menor e parece que isso permite que o exercício tenha mais benefícios. Trata-se de uma hipótese para explicar esse resultado que encontramos.”

Estilo de vida

O profissional de educação física ressalta, no entanto, que também foram registrados benefícios no grupo que treinou pela manhã, só que em menor intensidade. “É importante dizer que, quando o assunto é fazer exercício, qualquer hora é melhor do que hora nenhuma. Ou seja: é necessário se exercitar. O que tentamos no trabalho foi maximizar as respostas.”

De acordo com Brito, hipertensos resistentes, que tomam quatro ou mais fármacos anti-hipertensivos por dia, necessitam de estratégias melhores de abordagem do problema do que as convencionais. “Para eles, creio que nossos resultados são bastante interessantes.”

Brito lembra que o mínimo recomendado para um adulto são 150 minutos de atividade física moderada por semana. “Se você fizer somente esses 150 minutos, já terá 7% menos chance de se tornar um hipertenso na maturidade. E quando falo de atividade física, estou englobando todos os tipos de atividade física, incluindo limpar a casa. Caso você já seja hipertenso, se fizer esse mínimo recomendado, terá até 50% menos chance de ter complicações advindas da hipertensão.”

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O pesquisador reafirma que a atividade física, em geral, confere um fator protetor intenso ao controle da pressão arterial. “Se o hipertenso fizer um exercício estruturado aeróbico, são esperados resultados semelhantes, por exemplo, àqueles referentes ao uso de um medicamento hipertensivo”, reforça Brito.


 Fonte: Agência FAPESP

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