Testes rápidos de Covid são seguros? Especialista explica
De acordo com monitoramento da Abrafarma (Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias), os testes positivos para Covid-19 feitos nas farmácias brasileiras aumentaram entre 30 de maio e 5 de junho, “e já chegaram a quase 40% de todos resultados do mês de maio”. Em contrapartida, a eficácia dos autotestes e antígenos caiu desde o surgimento da variante Ômicron, variando entre 40% a 50% de precisão. Já o PCR, em 80% e 85%. É o que sugere um estudo feito em fevereiro deste ano por cientistas de Ontario, do Canadá, que revela a queda da sensibilidade desses exames. Afinal, os testes rápidos de Covid são seguros? O que fazer se houver suspeita de falso negativo mesmo com os sintomas da infecção? Consultamos o médico infectologista Eduardo Sellan Lopes Gonçales para responder a estas e a outras perguntas. Saiba mais.
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Por dentro das diferenças entre os testes
Antes de mais nada, é importante saber como funciona cada teste disponível no mercado, a começar pelo PCR. “Nele, buscamos a parte mais profunda do vírus, que é o seu código genético (RNA). É uma técnica mais complexa, pois envolve o uso de um aparelho laboratorial específico para detectar o RNA. No entanto, o PCR tem a vantagem de possuir alta sensibilidade. Ou seja, mesmo com a presença de poucos vírus na amostra, é possível identificá-los”, explica Gonçales.
Já o antígeno (o qual conhecemos por “teste do cotonete”) e o autoteste possuem uma dinâmica parecida com um teste de gravidez de farmácia. “Ambos analisam a parte mais superficial do vírus, chamada proteína M que, inclusive, confere o aspecto de ‘coroa’ do vírus. Tecnicamente são testes menos complexos, pois basta a coleta de secreção nasal associada ao reagente para indicar ou não a infecção pelo vírus”, esclarece o especialista. Contudo, diferentemente do PCR, o antígeno e o autoteste precisam de quantidades maiores do vírus. Dessa forma, a sensibilidade é menor.
Os testes rápidos de Covid são seguros ou devemos confiar apenas no PCR?
“Raramente existem casos de falso positivo. Então se a pessoa tem ou não os sintomas da doença e testa positivo para qualquer formato de teste, o resultado está correto, pois houve a identificação do vírus”, avalia Gonçales. Mas a situação contrária exige uma nova tentativa após 24h da realização do primeiro teste. O ideal é refazê-lo com uma metodologia diferente. “Por exemplo, se eu utilizei o antígeno ou autoteste, melhor optar pelo PCR que é mais sensível na segunda rodada”, sugere o médico. Caso não seja possível, não há problema em repetir o método, desde que o intervalo de 24h seja respeitado.
Deu negativo em todas as tentativas. E agora?
Diante da redução de sensibilidade aos vírus devido às diversas mutações ao longo da pandemia, é importante aderir ao isolamento — sobretudo se a pessoa estiver com os sinais típicos da enfermidade. Afinal, mesmo não sendo Covid-19, pode ser uma gripe, que é igualmente contagiosa. Na dúvida, a prevenção continua sendo a melhor forma de evitar a transmissão do vírus para outras pessoas.
E por que a eficácia dos testes rápidos diminuiu? A princípio, todos os testes que temos atualmente foram produzidos com base no conhecimento adquirido no início da pandemia do coronavírus até o surgimento da variante Delta. Porém, as mutações se desenvolveram e surgiu a Ômicron, que subverteu a lógica dos exames. “Primeiro porque a Ômicron permanece menos tempo no organismo e possui menos vírus no nariz em relação à Delta. Alguns prováveis motivos estão relacionados à própria característica do vírus e ao maior poder de defesa adquirido por meio da vacinação. Além disso, a Ômicron possui a mutação da proteína M, que atrapalha a detecção pelo antígeno ou autoteste”, afirma Gonçales.
Por fim, outro fator que pode favorecer o falso negativo é a forma indevida de coletar a amostra nasal em um antígeno. Por ser um exame desconfortável, o profissional de saúde pode enfrentar dificuldades em recolher o muco do nariz, que precisa ser retirado da parte mais profunda da fossa. O mesmo ocorre com um teste feito pela própria pessoa, que nem sempre segue as instruções corretamente.
Fonte: Eduardo Sellan Lopes Gonçales, médico infectologista da Faculdade de Medicina da Unicamp e sócio e médico da Infectoria.