Sequelas do AVC: entenda o que causou a morte de Milton Gonçalves
O acidente vascular cerebral, popularmente conhecido como derrame, é a segunda principal causa de morte no Brasil, e pode provocar efeitos incapacitantes. De acordo com a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), em 2020, mais de 80 mil pacientes com AVC foram a óbito. Mas afinal, quais são as sequelas do AVC que podem surgir?
Nesta segunda-feira (30), o ator Milton Gonçalves morreu em casa. De acordo com a segundo a família, a causa foram as consequências de problemas de saúde decorrentes de um AVC sofrido em 2020. Na ocasião, o ator ficou três meses internado e precisou de aparelhos para respirar. O ator de 88 anos já enfrentava sequelas do AVC. Ele ficou com a voz mais baixa que o normal e andava apenas de cadeira de rodas, pois sentia dificuldades na perna esquerda.
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As causas do AVC
Existem dez fatores de risco que são responsáveis por 92% dos casos de AVC no mundo: hipertensão arterial, tabagismo, obesidade abdominal, diabetes, álcool, estresse e depressão, fatores de risco cardíacos e colesterol alterado.
Tais fatores podem causar o derrame, ou seja, o entupimento e/ou rompimento dos vasos que levam sangue com oxigênio e nutrientes para o cérebro, ocasionando a morte de neurônios e consequente perda ou redução da função da região cerebral comprometida.
Sintomas de derrame
O derrame pode ser isquêmico, quando ocorre entupimento de um vaso que leva sangue para o cérebro ou hemorrágico, quando um vaso se rompe/estoura dentro do cérebro. Dessa forma, é importante ficar atento a todo sintoma neurológico que surja muito rápido (de forma aguda):
- Perda de força, formigamento ou dormência em rosto e/ou braço e/ou perna de um lado do corpo;
- Dificuldade para falar/compreender o que estão dizendo;
- Dificuldade para enxergar;
- Tontura sem causa conhecida, alterando a coordenação ou o equilíbrio;
- Dor de cabeça muito forte e que não melhora;
- Dificuldade para engolir;
- Confusão mental.
Quais são as principais sequelas do AVC?
A pessoa com alterações decorrentes de um AVC pode apresentar diversas limitações. Por isso, a recuperação é diferente em cada caso. A boa notícia é que o tratamento médico imediato, associado à reabilitação adequada, pode minimizar as incapacidades, evitar sequelas e proporcionar ao indivíduo o retorno o mais breve possível às suas atividades e participação na comunidade. Confira as principais sequelas do AVC.
Disfagia
Alguns sinais e sintomas podem ser indícios de disfagia em quem sofreu AVC. Dessa forma, são eles: falta de apetite, recusa alimentar, dificuldade de reconhecimento visual do alimento, dificuldade nas tarefas que envolvem o ato de preparar e levar o alimento até a boca, alterações de olfato e paladar, diminuição ou ausência do controle da mastigação, presença de tosse, pigarro/ou engasgos durante a refeição; alterações vocais.
Paralisia facial é uma das principais sequelas do AVC
É uma das sequelas do AVC mais frequentes. Dessa forma, caracteriza-se pela diminuição dos movimentos faciais, podendo resultar em alterações da mímica facial, nas funções de deglutição e fonação, com consequente impacto estético e funcional. A reabilitação é uma das principais formas de tratamento.
Fraqueza muscular e limitação de atividades motoras e funcionais
A fraqueza muscular representa um dos maiores contribuintes para a incapacidade após AVC. Por isso, é importante que, em qualquer nível de atenção, os exercícios sejam delineados de forma que uma atividade muscular mínima resulte em movimento do membro. Algumas estratégias de fortalecimento muscular incluem:
• Exercícios de fortalecimento muscular progressivo;
• Eletroestimulação associada ao treino de tarefas funcionais.
Déficits de sensibilidade
Déficits de sensibilidade envolvem as modalidades perceptivas e proprioceptivas, ou seja, dor, tato e sensação térmica podem estar alterados.
Alterações visuais
Há diversos tipos de alterações visuais, mas suas alterações, bem como gravidade, dependerão da área do cérebro atingida. Assim, podem ser agrupadas em categorias: perda da visão central, perda do campo visual, problemas com movimentos oculares
e problemas de processamento visual.
Sequelas do AVC: Afasia
As afasias são distúrbios que afetam os aspectos de conteúdo, forma e uso da linguagem oral e escrita, em relação à sua expressão e/ou compreensão, como consequência de uma lesão cerebral. Assim, envolve os processos centrais de significação, seleção de palavras e formulação de mensagens. Este distúrbio é observado na expressão de símbolos por meio da comunicação oral, escrita (dislexias e agrafias adquiridas) ou gestual, tratando-se de uma dificuldade do paciente em lidar com elementos linguísticos.
Dispraxia oral e dispraxia de fala
As dispraxias são alterações referentes no posicionamento e sequência dos movimentos musculares, necessários para a produção dos gestos proposicionais aprendidos. Assim, a principal característica do paciente dispráxico é o melhor desempenho observado em atividades automáticas e espontâneas e o pior desempenho em atividades dirigidas.
Sequelas do AVC: Disartria
As disartrias são desordens que envolvem a produção da articulação e fonação de origem neurológica. As manifestações mais
comumente observadas no pós-AVC são: articulação imprecisa, voz monótona em relação à frequência e à intensidade, alteração da prosódia, rouquidão, soprosidade, voz fraca, hipernasalidade, voz tensa, velocidade de fala variável e pausas inapropriadas.
Cognição
O comprometimento cognitivo é comum em pacientes com AVC agudo, com 45% de prevalência de pacientes com déficit cognitivo. Estas disfunções comumente proporcionam consequências devastadoras na vida do indivíduo e exercem forte impacto no desempenho ocupacional do paciente. O comprometimento cognitivo geralmente envolve a memória, atenção, linguagem, cálculo, orientação temporal e espacial, funções executivas, negligência, apraxia e agnosia.
Sequelas do AVC: Distúrbios do humor
A mudança do estado de humor do indivíduo após AVC é comum. Geralmente, ocorre após um longo período, sobretudo durante a reabilitação. É caracterizada por crises de choro e/ou riso incontrolável, podendo, inclusive, ocorrer de forma dissociada ao estado de humor do sujeito acometido, que pode reconhecer esse comportamento como inadequado, o que aumenta ainda mais a sua ansiedade e contribui para o seu isolamento.
Prevenção
Segundo estimativa da Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil será o país com maior número de casos de morte por doenças cardiovasculares em 2040. Dessa forma, a prevenção é a principal aliada para evitar diversas patologias, incluindo o derrame. Dados da Sociedade Brasileira de Cardiologia revelam, por exemplo, que a ingestão de frutas e legumes diariamente reduz em aproximadamente 20% a mortalidade da doença.
Dessa forma, para prevenir o derrame, deve-se manter uma vida saudável, incluindo uma alimentação saudável, consumo de água, prática regular de atividade física, evitar vícios como cigarro, bebida e drogas, além de controlar o peso e diminuir o risco de doenças como pressão alta, diabetes e colesterol alto. Exames preventivos também são fundamentais, pois muitas doenças podem ser silenciosas em um primeiro momento, sendo descobertas somente após o derrame já ter acontecido.
Por fim, havendo sequelas, o tratamento geralmente é multidisciplinar, incluindo fisioterapia, além de acompanhamento com fonoaudióloga, terapeuta ocupacional, psicóloga, entre outros, a depender da sequela de cada paciente.
Referências:
Diretrizes de Atenção à Reabilitação da Pessoa com Acidente Vascular Cerebral.