Exercício físico reverte perda de massa muscular em mulheres que fizeram cirurgia bariátrica

Movimento
22 de Novembro, 2021
Exercício físico reverte perda de massa muscular em mulheres que fizeram cirurgia bariátrica

O exercício físico atenua e reverte a perda de massa muscular após cirurgia bariátrica em mulheres obesas, melhorando a força e o funcionamento dos músculos do corpo. Essa foi a conclusão de uma pesquisa realizada pelo Grupo de Fisiologia Aplicada e Nutrição da Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) e da Faculdade de Medicina (FMUSP) da USP com 80 mulheres que foram operadas em São Paulo. Por meio de análises moleculares, o estudo revela que o treino físico beneficiou os mecanismos do corpo que regulam a massa muscular. Entenda melhor:

Tipos de cirurgia bariátrica

O professor Hamilton Roschel, coordenador do grupo de pesquisa, explica que as técnicas de cirurgia bariátrica podem ser classificadas como restritiva, malabsortiva ou combinada. “A técnica restritiva reduz o tamanho do estômago e, consequentemente, a quantidade de alimento ingerido pela pessoa”, relata. “Na malabsortiva, por outro lado, o trajeto do alimento é alterado, induzindo a um menor tráfego do alimento no intestino e, assim, a uma menor absorção dos nutrientes. Por fim, a técnica combinada associa os dois métodos.”

De acordo com dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM), em 2019 foram realizados 68.530 procedimentos de cirurgia bariátrica no Brasil. Número então 7% superior às 63.969 cirurgias feitas em 2018.

Segundo o professor, a cirurgia bariátrica atenua a gravidade de uma série de complicações associadas à obesidade. “Por exemplo, quando comparada ao tratamento médico padrão para manejo da obesidade, ou seja, aconselhamento nutricional e atividade física, monitoramento dos níveis de glicose e uso de medicamentos para controle do peso, a intervenção cirúrgica promove uma maior redução dos valores de Índice de Massa Corpórea (IMC), açúcar no sangue, resistência à ação da insulina e o uso de medicamentos em indivíduos com obesidade e diabetes ou sem diabetes”. Assim, o IMC é um índice que avalia o estado nutricional, calculando se a pessoa está dentro do seu peso ideal em relação à altura.

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Quem pode fazer?

No Brasil, de acordo com o Conselho Federal de Medicina (CFM), desde 2010, os critérios para o uso da cirurgia gastrointestinal como tratamento da obesidade mórbida são IMC igual ou superior a 40 kg/m2. Ou, então, maior que 35 kg/m2 em pessoas com apneia do sono severa, diabete descontrolada e cardiomiopatia grave). “Em 2017, o CFM também reconheceu a cirurgia como opção terapêutica para pacientes com diabetes tipo 2 com IMC entre 30 kg/m2 e 34,9 kg/m2”, diz Roschel, “Desde que tenham idade entre 30 e 70 anos, resistência ao tratamento com antidiabéticos orais ou injetáveis, mudanças no estilo de vida e comprovem que compareceram ao endocrinologista por, no mínimo, dois anos.”

“Cabe ressaltar que o CFM considera fundamental que tanto a pessoa que será submetida à cirurgia, assim como a sua família, tenham plena compreensão dos benefícios e riscos atribuídos à intervenção cirúrgica”, destaca o professor. “Sempre há possibilidade de reganho de massa corporal. E, no caso da técnica combinada, há ainda a desvantagem de requerer o uso de suplementos vitamínicos por toda a vida.”

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Perda de massa muscular após cirurgia bariátrica: Como funcionou o estudo

Para a pesquisa, foram recrutados 80 pacientes no Centro de Referência em Cirurgia Bariátrica e Metabólica do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina (FMUSP). “Eram todas mulheres, com idade ao redor de 40 anos e IMC médio de 48 kg/m2. Um grupo realizou um programa de treinamento físico supervisionado três vezes por semana por seis meses, iniciado três meses após a cirurgia bariátrica. E outro recebeu apenas o atendimento pós-cirúrgico padrão, com atendimento médico e acompanhamento nutricional, mas que não engloba exercícios”, descreve Roschel. “As sessões de treinamento compreendiam exercícios aeróbicos e de fortalecimento muscular. E foram supervisionadas por pesquisadores do grupo e conduzidos no nosso Laboratório de Avaliação e Condicionamento em Reumatologia (Lacre) do HC.”

Nos dois grupos, os pesquisadores avaliaram a força muscular dos membros superiores e inferiores. Além disso, funcionalidade, composição corporal, área das fibras musculares e outros parâmetros dos músculos. “Observamos uma redução importante da força muscular dos membros superiores e inferiores três meses após a cirurgia em ambos os grupos. Em contrapartida, o grupo treinado mostrou um aumento da força muscular ao final da intervenção, enquanto o grupo não treinado não apresentou nenhuma melhora.”

Ademais, o grupo treinado apresentou melhora da funcionalidade em comparação ao não treinado após a intervenção. “A cirurgia comprometeu a massa magra e a área de secção das fibras musculares de ambos os grupos. Porém, o exercício atenuou de maneira importante a perda de massa magra e reverteu a perda ao nível da fibra muscular no grupo exercitado”, destaca Roschel.

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Perda de massa muscular após cirurgia bariátrica: Conclusões

“Esses resultados, analisados em conjunto, nos permitem recomendar a inserção de programas de treinamento físico sistemático no tratamento pós-operatório de mulheres submetidas à cirurgia bariátrica. Desse modo, é possível de contrapor os efeitos adversos da perda de massa muscular”, enfatiza o professor.

Fonte: Jornal da USP.

Referência: Gil S, Kirwan JP, Murai IH, Dantas WS, Merege-Filho CAA, Ghosh S, Shinjo SK, Pereira RMR, Teodoro WR, Felau SM, Benatti FB, de Sá-Pinto AL, Lima F, de Cleva R, Santo MA, Gualano B, Roschel H. A randomized clinical trial on the effects of exercise on muscle remodelling following bariatric surgery. J Cachexia Sarcopenia Muscle. 2021 Oct 19. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/34666419/.

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