Como a internet afeta a saúde mental de crianças e adolescentes

Equilíbrio
10 de Agosto, 2021
Como a internet afeta a saúde mental de crianças e adolescentes

Recentemente, o país presenciou um acontecimento triste e chocante: a morte de Lucas Santos, de apenas 16 anos. O filho da cantora de forró Walkyria Santos cometeu suicício após publicar um vídeo no TikTok e receber diversos ataques homofóbicos. A repercussão do caso trouxe à tona um assunto que vem sendo cada vez mais falado: o impacto da internet na saúde mental de crianças e adolescentes.

De acordo com a mãe de Lucas, a internet foi a responsável pela morte do filho. “Como vocês sabem, ele postou um vídeo pensando que as pessoas achariam engraçado. As pessoas destilaram ódio na internet, deixando comentários maldosos”, diz em um vídeo publicado no Instagram. “Foram os comentários desse TikTok nojento na internet que fizeram ele chegar a este ponto”, desabafou.

Internet e saúde mental

Nos dias de hoje, as redes sociais têm contribuído para alavancar negócios, estudar, fazer novas amizades, perder a timidez, entre outros. No entanto, o lado negativo da internet também existe, e vem afetando — principalmente — a saúde mental de crianças e adolescentes.

“Os riscos podem estar relacionados ao tempo que os adolescentes passam nas redes sociais”, diz Rosangela Sampaio, psicóloga e apresentadora do programa Mulheres Em Flow.

De acordo com uma pesquisa do Pew Research Center com quase 750 jovens de 13 a 17 anos, 45% estão online constantemente e 97% usam ao menos uma plataforma de mídia social. Como YouTube, Facebook, Instagram ou Snapchat. 

Outra pesquisa, feita em  2019 com mais de 6.500 jovens de 12 a 15 anos, mostrou que aqueles que gastam mais de três horas por dia navegando na internet podem estar sob risco elevado de problemas de saúde mental.

Durante a pandemia, o aumento do tempo das crianças e dos adolescentes na internet foi muito significativo. Afinal, pelo fato de estarem em casa, eles ficam “entediados” e buscam utilizar as mídias sociais como forma de distração.

Mas a exposição pode trazer várias consequências. “Devido à natureza impulsiva, os adolescentes correm o risco de compartilhar fotos íntimas ou histórias altamente pessoais. Isso pode resultar em adolescentes sendo intimidados, assediados ou mesmo chantageados”, explica Rosângela. “Os adolescentes geralmente criam postagens sem considerar as consequências ou sem se preocupar com a privacidade”, afirma.

Além disso, qualquer rede social pública abre caminhos para comentários ofensivos, contribuindo para o cyberbullying

Como combater os ataques

Receber ataques de pessoas desconhecidas nas redes sociais é algo extremamente difícil. “Muitos adolescentes ficam incomodados com as críticas, porque logo pensam em alguma característica negativa própria. Desse modo, não se sentem confortáveis quando alguém avalia o que fizeram ou expressaram”, ressalta a psicóloga. 

Leia também: Como as redes sociais podem atrapalhar a qualidade do sono

Por isso, veja algumas dicas da especialista que podem ser essenciais para combater os ataques:

  • Não sofra sozinho: O objetivo dos agressores é isolar a vítima. Dessa maneira, busque compartilhar a questão com pessoas que você confia — aquelas que vão ouvir, validar, respeitar e apoiar você;
  • Não responda: Qualquer coisa que você disser vai recompensar e alimentar o ataque;
  • Crie um plano de segurança: Se os ataques nas redes sociais ameaçarem a sua segurança, remova informações pessoais da internet. Tais como: endereço, número de telefone, e-mail… Torne seus perfis nas mídias sociais privados;
  • Documente tudo o que puder: Mantenha evidências da agressão digital: faça capturas de telas. Se a situação piorar, os agressores provavelmente excluirão os ataques posteriormente.

O apoio dos pais

É fundamental que os pais monitorem as atividades dos filhos nas mídias sociais. Além disso, também devem ficar de olho nas amizades, saídas e idas à escola.  

Sem dúvidas, ter o apoio dos pais ou responsáveis é imprescindível. Pois muitas vezes a criança ou o adolescente não sabe expressar seus sentimentos, guardando tudo para si.

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“Ao dizer ‘Você não deveria fazer isso’ para um adolescente, é provável que seu feedback seja recebido com um revirar de olhos. Isso porque quando as crianças se transformam em adolescentes, elas acham que não precisam de ajuda dos adultos, especialmente de seus pais”, explica Rosangela. 

“Procure compartilhar feedbacks construtivos com definições de limites, ou seja, aponte o que o seu filho fez bem e o que ele poderia fazer melhor da próxima vez. Estabelecer uma relação de parceria, respeito e confiança com seu filho vai facilitar passar por essa fase tão desafiadora, que é a adolescência”, finaliza.

Dicas para navegar na internet e preservar a saúde mental do adolescente

De fato, as crianças e os adolescentes não devem passar por isso sozinhos. Portanto, abaixo estão algumas dicas de como ajudar o seu filho a navegar na internet de forma saudável:

  • Estabeleça limites razoáveis: Converse com seu filho sobre como evitar que as mídias interfiram em suas atividades de higiene, sono, alimentação, interação com a família ou deveres de casa. 
  •  Incentive uma rotina saudável na hora de dormir, evitando o uso de dispositivos eletrônicos: Se possível, mantenha celulares e tablets fora dos quartos — dê o exemplo seguindo a essa regra você mesmo; 
  • Explique o que não está bem:  Desencoraje seu filho a fofocar, espalhar boatos, intimidar ou prejudicar a reputação de alguém, seja de modo online ou não. Converse sobre o que é apropriado e seguro compartilhar nas redes sociais; 
  •  Incentive o contato cara a cara com os amigos: Isso é muito importante para adolescentes vulneráveis ​​ao transtorno de ansiedade social; 
  • Fale sobre redes sociais: Converse sobre seus próprios hábitos de mídia social. Assim, pergunte ao seu filho como ele está usando as mídias sociais e como isso o faz se sentir;
  •  E mais: Se você acha que seu filho está apresentando sinais ou sintomas de ansiedade ou depressão relacionados ao uso da internet, procure ajuda especializada.

Fonte: Rosangela Sampaio, psicóloga e apresentadora do programa Mulheres Em Flow.

Sobre o autor

Julia Moraes
Jornalista e repórter da Vitat. Especialista em fitness, saúde mental e emocional.

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