Estudo indica que coronavírus pode se alojar na gordura corporal

Alimentação
13 de Julho, 2020
Estudo indica que coronavírus pode se alojar na gordura corporal

Um estudo conduzido pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e divulgado pela Agência FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de S. Paulo) apontou que o novo coronavírus (SARS-CoV-2) pode ser capaz de infectar a gordura corporal humana e se manter em seu interior. Assim, esse dado pode ajudar a entender porque pessoas com obesidade correm mais risco de desenvolver a forma grave da COVID-19.

Segundo a análise, além de serem mais acometidos por doenças crônicas, como diabetes, as pessoas com obesidade teriam, um maior reservatório para o vírus em seu organismo. “Temos células de gorduras espalhadas por todo o corpo e as pessoas com obesidade as têm em quantidade e tamanho ainda maior. Nossa hipótese é a de que o tecido adiposo serviria como um reservatório para o SARS-CoV-2. Com mais e maiores adipócitos, as pessoas obesas tenderiam a apresentar uma carga viral mais alta. No entanto, ainda precisamos confirmar se, após a replicação, o vírus consegue sair da célula de gordura viável para infectar outras células”, explica à Agência FAPESP Marcelo Mori, professor do Instituto de Biologia (IB) e coordenador da investigação.

Como explica Mori, não é em qualquer tipo de célula humana que o SARS-Cov-2 consegue entrar e se replicar de forma eficiente. Contudo, algumas condições favoráveis precisam estar presentes, entre elas uma proteína de membrana chamada ACE-2 (enzima conversora de angiotensina 2, na sigla em inglês) à qual o vírus se conecta para invadir a célula.

Gordura corporal e coronavírus: Como funcionou o estudo

Nas comparações feitas in vitro, os pesquisadores da Unicamp observaram que o novo coronavírus infecta melhor os adipócitos (células de gordura corporal) do que, por exemplo, as células epiteliais do intestino ou do pulmão.

E a “dominação” da célula de gordura pelo vírus se torna ainda mais favorecida quando o processo de envelhecimento celular é acelerado com uso de radiação ultravioleta. Ao medir a carga viral 24 horas após esse procedimento, os pesquisadores observaram que as células adiposas envelhecidas apresentavam uma carga viral três vezes maior do que as células “jovens”.

“Usamos a radiação UV para induzir no adipócito um fenômeno conhecido como senescência, que ocorre naturalmente com o envelhecimento. Ao entrarem em senescência, as células expressam moléculas que recrutam para o local células do sistema imune. É um mecanismo importante para proteger o organismo de tumores, por exemplo”, explica Mori.

Ainda de acordo com Mori, o envelhecimento acelerado do adipócito induzido pela radiação UV mimetiza o que costuma ocorrer no tecido adiposo de indivíduos com obesidadee nos idosos.

Obesidade e coronavírus: Como funciona na prática 

A obesidade é uma doença complexa, que faz parte das doenças crônicas não transmissíveis (DCNT). De um modo geral, podemos dizer que ela é caracterizada por um acúmulo excessivo de gordura corporal. Tal acúmulo pode levar a outras enfermidades como doenças cardiovasculares, dislipidemia, diabetes tipo 2, síndrome metabólica e alguns tipos de câncer. 

Obesidade pode ser classificada pela distribuição da gordura corporal e por graus, de acordo com o Índice de massa corporal (IMC), que é calculado dividindo-se o peso (em kg) pelo quadrado da altura (em metros).

Portanto, o resultado revela se o peso está dentro da faixa ideal, abaixo ou acima do desejado – revelando sobrepeso ou obesidade.

Classificação do IMC:

  • Menor que 18,5 – Abaixo do peso
  • Entre 18,5 e 24,9 – Peso normal
  • Entre 25 e 29,9 – Sobrepeso (acima do peso desejado)
  • Igual ou acima de 30 – Obesidade.

“Quando falamos em obesidade, não estamos falando apenas de estética. Estamos falando de saúde”, explica a nutricionista Vanessa Losano, de São Paulo. “É uma doença real, e que atinge uma parcela muito grande da população mundial. Assim, ela altera nosso organismo e seu funcionamento, e podemos ficar mais suscetíveis a inflamações. Com isso, ficamos mais propensos a adoecer, seja por fatores internos ou externos, como o caso de vírus como o Covid-19, bactérias e fungos”, esclarece.

  • Segundo a especialista, a obesidade traz com ela diversos problemas, como: 
  • Aumenta a sobrecarga em nossas articulações;
  • Reduz a mobilidade;
  • Aumenta o peso em cima dos pulmões, o que por sua vez prejudica a respiração;
  • Altera as funções hormonais, o que traz junto vários outros problemas, como aumento na liberação de insulina, podendo ocasionar em diabetes, redução na produção de alguns hormônios, aumento na produção de outros;
  • Problemas de circulação (que podem levar ao aumento da pressão);
  • Doenças cardíacas;
  • Queda na imunidade.

Obesidade no Brasil e no mundo

Em recente publicação do site da Organizações Unidas, o chefe da ONU para a Alimentação e a Agricultura (FAO), José Graziano da Silva, alertou para o que descreveu como uma “globalização da obesidade”. Atualmente, mais de 2 bilhões de pessoas no mundo estão acima do peso. Mais de 670 milhões delas são obesas. 

No Brasil, segundo dados de 2017 do Ministério da Saúde,  17,8% da população brasileira era obesa no ano de 2010; em 2014, o índice subiu para os 20%, sendo a maior prevalência entre as mulheres (22,7%). 

“É fato que nem todas as pessoas obesas tem alguma comorbidade atrelada. Mas, é por conta de todas essas alterações que ela pode provocar que pessoas obesas estão no grupo de risco para o coronavírus”, relata Vanessa. 

“Por isso, não só pensando na relação de obesidade e coronavírus, é essencial que cuidar melhor da nossa alimentação no geral. Nada de dietas radicais. Porém, mudar a qualidade do que comemos, a fim de dar ao nosso organismo o combustível correto para se manter saudável”, finaliza. 

Leia também: Coronavírus: O que você precisa saber para se cuidar

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