Dietas que curam o câncer: oncologista faz alerta sobre confiar nas informações da internet

A internet está repleta de recomendações sobre o que adicionar ou remover da alimentação para prevenir (e até tratar) tumores. As dietas que teoricamente curam o câncer bombam por aí, mas elas são válidas?

De acordo com o oncologista Eliseu Fleury, membro da Singulari Medical Team, é importante ter cuidado com essas promessas. Além disso, é essencial se questionar se realmente existem superalimentos que podem prevenir o câncer; ou mesmo produtos ruins que podem causar ou agravar a doença.

Enquanto isso, o relatório mais recente da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede PenSSAN) aponta que 55,2% da população não necessariamente come três refeições ao dia. Com mais de 19 milhões de brasileiros vivendo em privação extrema de alimentos, é fundamental entender a relação entre os hábitos alimentares e a progressão de tumores.

Dietas que curam o câncer?

De fato, a nutrição desempenha um papel importante na saúde do corpo, e uma dieta pobre pode afetar o risco de desenvolvimento de câncer. De acordo com a American Cancer Society, cerca de um em cada cinco cânceres nos EUA e cerca de um em cada seis falecimentos pela mesma doença podem estar ligados à má nutrição, ao excesso de peso, ao sedentarismo ou ao consumo de álcool.

Não por acaso, a entidade recomenda hábitos alimentares saudáveis, que incluem muitos vegetais, frutas e grãos integrais. Bem como a limitação de carnes vermelhas, bebidas açucaradas, alimentos altamente processados ​​e grãos refinados.

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Mitos e evidências

A dúvida que persiste é como um alimento específico pode afetar o risco de câncer de uma pessoa. Para o oncologista, é fundamental tentar encontrar e entender as evidências — ou a falta delas — a respeito de algumas alegações sobre as dietas que curam o câncer.

Segundo ele, um exemplo que demanda atenção é a ideia de que o “açúcar alimenta o crescimento do tumor”. “De fato, todas as células do nosso corpo usam o açúcar — ou o carboidrato — como principal fonte de energia, incluindo as cancerosas. Contudo, essa não é a única forma de combustível. As células podem usar outros nutrientes para crescer, como proteínas e gorduras”, esclarece.

Além disso, o especialista ressalta que não existem provas de que simplesmente cortar o açúcar (ou os carboidratos) da dieta pode impedir que as células cancerosas se espalhem.

Ele cita a epidemiologista nutricional Carrie Daniel-MacDougall, do MD Anderson Cancer Center, que afirma que se as células cancerosas não receberem açúcar, elas começarão a quebrar componentes de outros estoques de energia dentro do corpo.

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Deitas baixas em carboidratos curam o câncer?

Para todos os efeitos, os cientistas estão investigando se certas dietas podem ajudar a desacelerar o crescimento de tumores. Por exemplo, testes em roedores e humanos apresentaram evidências preliminares mostrando que o cardápio cetogênico, que é pobre em carboidratos e rico em gorduras, pode contribuir para retardar o crescimento de alguns tipos de tumores — como o do reto.

Entretanto, para isso, é necessário combinar o modelo alimentar com os tratamentos de câncer, como radiação e quimioterapia. Atualmente, ainda não há uma conclusão sobre como isso pode funcionar, mas os especialistas têm algumas hipóteses.

Como o oncologista argumenta, as dietas cetogênicas são boas para reduzir os níveis de insulina, um hormônio que ajuda as células na absorção do açúcar. Ao mesmo tempo, pesquisas em camundongos mostram que altos níveis de insulina podem enfraquecer a eficácia de certas terapias.

O especialista ressalta que o oncologista Neil Iyengar, do Memorial Sloan Kettering Cancer Center, tem estudado o efeito desse tipo de dieta em alguns tumores.

Contudo, ele lembra que o próprio pesquisador frisa que os efeitos da dieta só são notados quando combinados à biologia do tumor. E não se aplicam para a redução geral do risco de câncer. Assim, Eliseu reforça a importância de consultar profissionais especializados antes de assumir dietas ou condutas baseadas em fontes que muitas vezes não partem de evidências científicas consolidadas.

Fonte: Eliseu Fleury, médico oncologista e membro da Singulari Medical Team.