Compulsão alimentar infantil: Como identificar e prevenir
A compulsão alimentar, assim como outros transtornos alimentares, pode ocorrer em qualquer estágio da vida, incluindo o infantil. Os distúrbios geralmente começam na infância, quando a criança está desenvolvendo suas emoções e lidando com novas experiências, como a rotina na escola.
Isso porque muitas mudanças são capazes de despertar sensibilidades nessa fase, e a comida pode ser um consolo para lidar com a ansiedade causada por dificuldades e transformações. Inseguranças com o corpo, comparações com os colegas e bullying são comuns, mas potencialmente perigosos se não forem percebidos pelos pais ou responsáveis.
Comer muito versus compulsão alimentar infantil
Contudo, existe uma diferença sutil entre comer em excesso e compulsivamente. Muitas vezes, a primeira situação está ligada aos hábitos familiares, geralmente com escolhas práticas e pouco saudáveis. A criança se acostuma a comer guloseimas em grandes quantidades porque é saboroso, por exemplo. Neste caso, rever o cardápio e frear o consumo diário é uma solução.
A compulsão, no entanto, é mais grave, pois trata-se de uma doença que exige orientação profissional, como a de nutricionistas e psicólogos para o suporte emocional.
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Como saber se meu filho sofre com compulsão alimentar infantil?
As evidências de uma relação conturbada com a comida começam com o “inocente” ato de comer escondido. Se você encontrar pacotes de salgadinhos, bolachas e outros alimentos na lata do lixo ou no quarto do seu filho, fique alerta.
Além disso, outro indício é quando a criança faz muitos lanchinhos fora de hora e quase sempre está à procura de comida na despensa: ela come “o que tiver à frente” em um curto período de tempo, até que não sobre nada.
Acompanhado desse hábito, perceba se seu filho está triste ou com alguma mudança de comportamento. Por exemplo, ele pode comer mais do que o habitual em uma refeição e rápido demais, sem sentir o sabor do alimento. Ou então correr para o banheiro toda vez após uma refeição — isso é sinal de um transtorno ainda mais sério, a bulimia.
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Caso ainda tenha dúvidas, é importante conversar com professores e pessoas próximas, que estão na companhia dele quando você está ausente. Dessa forma, ao dialogar com um professor, é possível que você descubra que seu filho pode estar sofrendo algum tipo de bullying. Ou, ainda, o problema pode estar dentro de casa: qualquer mudança na rotina e na estrutura familiar, por exemplo, é um potencial gatilho para a criança buscar conforto na comida.
O que fazer em caso de compulsão alimentar infantil?
Não ignore a situação
A maioria dos pais e responsáveis não sabe como agir e opta pelo silêncio. No entanto, a omissão pode causar mais sofrimento e potencializar o problema. Seja o porto seguro e converse com seu filho, pergunte o que está acontecendo.
Não imponha dietas
Nesses casos, a restrição de alimentos pode gerar ainda mais ansiedade, que leva à compulsão.
Se a criança estiver acima do peso, evite falar sobre isso e vá para a prática
Busque ter opções mais saudáveis em casa para ofertar para criança ao longo do dia. É importante também que ela não realize refeições sozinha. Respeite suas vontades, estabelecendo limites, em vez de privá-la de comer determinados alimentos.
Mobilize toda a família
Se você tiver outros filhos, oriente-os a não julgar ou fazer brincadeiras relacionadas ao distúrbio do irmão ou irmã.
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Proporcione mais momentos em família
O ato de comer vai além de uma garfada seguida da outra. As refeições em família são essenciais para fortalecer os laços quando há diálogo. Além disso, é uma oportunidade de observar o comportamento de seu filho durante a refeição.
Busque ajuda profissional
Recorrer ao psiquiatra (de preferência especializado na área de compulsão alimentar infantil), nutricionista e psicólogo lhe trará apoio para auxiliar seu filho a ter uma relação saudável com a comida. Assim, não tenha receio de procurar aconselhamento de especialistas. Ao fazer isso, seu filho se tornará mais feliz e confiante para crescer em paz com a alimentação e a autoimagem, caso esta lhe seja sensível.
Fonte: Ana Paula Portela, nutricionista da Instituição Eurekka Med: https://eurekka.me/ | https://eurekka.me/med/. CRN-2/15263