Retrospectiva do sono: Como dormimos durante a pandemia?

Sono
20 de Dezembro, 2021
Retrospectiva do sono: Como dormimos durante a pandemia?

Algo que chamou a atenção nos meus atendimentos  durante a pandemia foi, sem dúvida alguma, o aumento das queixas relacionadas ao sono.

  • “Meu sono não é mais como antes”
  • “Tem dias que parece que não durmo”
  • “O sono não vem por nada”
  • “Antes não roncava e agora até acordo com meu próprio ronco
  • “Meu parceiro começou a roncar e não me deixa dormir”
  • “Ando trocando o dia pela noite”

Essas são algumas das queixas que mais ouço no consultório. Mas, tenho certeza de que muitos de vocês já se identificaram com algumas delas, não é mesmo?

Sem dúvida, o aumento de apneicos, roncadores e de insones é o grande destaque no que tange a piora da qualidade do sono da população durante a pandemia. E é sobre isso que vamos conversar.

Como dormimos durante a pandemia? Principais desafios

As alterações psicológicas – como estresse, medo e ansiedade, o aumento das horas de exposição às telas e alterações nos sinalizadores do nosso relógio biológico – como a quebra da rotina e redução a exposição à luz solar, por exemplo – aparecem como os principais responsáveis pelo aumento no número de quadros de insônia.

Já o ganho de peso, de forma isolada, aparece como o grande vilão do aumento da incidência das queixas relacionadas ao ronco e à apneia obstrutiva do sono (AOS) durante a pandemia de COVID-19.

Segundo um estudo do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da USP com mais de 14 mil adultos, 20% dos brasileiros ganharam pelo menos 2 quilos nesse período de pandemia.

Já uma pesquisa divulgada recentemente pelo Instituto do Sono revelou que a dificuldade de dormir afeta 66,8% dos brasileiros na pandemia. E que 59,4% das pessoas acordam mais vezes durante a noite.

O que é insônia

Mas, você sabia que a “dificuldade de dormir” de forma isolada e não recorrente não é considerada insônia?

A insônia é um distúrbio persistente que se caracteriza pela diminuição da capacidade de uma pessoa adormecer. Ou, ainda, de permanecer dormindo durante toda a noite. Para o diagnóstico do distúrbio, geralmente, consideramos que a pessoa precisa ter três noites por semana com dificuldade para dormir, por pelo menos três meses, mesmo com condições propícias para o sono.

Já o ronco, além de ser um vilão em diversos relacionamentos, é também o principal sintoma relacionado a um distúrbio muito prevalente na população, que é a apneia obstrutiva do sono (AOS).

Um estudo de prevalência de AOS derivado do EPISONO e publicado na revista Sleep Medicine em maio de 2010 mostrou que 32,9% da população em São Paulo tem AOS. Após a publicação desse artigo, pesquisadores de outros países replicaram o trabalho, confirmando os números revelados pelo Instituto do Sono e consolidando esses resultados. Ou seja, de cada 3 leitores dessa coluna, 1 tem AOS. Assustador, não é mesmo?

Ronco

O ronco é o som gerado pelos tecidos da faringe em consequência da passagem do ar por uma via aérea mais estreita e “amolecida”. A AOS se caracteriza por episódios sucessivos de obstrução parcial ou total da via aérea que cursam com queda da saturação de oxigênio no sangue e fragmentação do sono, reduzindo o sono profundo. Geralmente, durante ou ao final de cada episódio desses a pessoa ronca. Mas, as apneias ocorrendo diversas vezes durante a noite de sono, dia após dia e ano após ano, favorecem um estado inflamatório crônico que pode contribuir para o surgimento e agravamento de diversas doenças.

Já é bem estabelecido na literatura a correlação entre a AOS e outras doenças crônicas como a hipertensão arterial, diabetes e a doença de Alzheimer, por exemplo.

É por isso que insisto:  roncar não é normal. E, uma vez o ronco sendo o principal sintoma relacionado a AOS, deve ser investigado de forma ativa. Atenção também para outros sintomas relacionados a AOS. Como: sonolência excessiva, cansaço e fadiga, dores de cabeça pela manhã, disfunção sexual, perda de memória, boca seca, irritabilidade e ranger dos dentes (bruxismo).

Agora que você entendeu um pouco sobre esses grandes distúrbios do sono, está apto a julgar a necessidade ou não de uma avaliação médica. Não é mesmo?

Ou quem sabe ainda dar um toque no parceiro roncador, no vizinho sonolento ou naquele familiar que fica horas rodando na cama sem conseguir dormir.

Eles vão te agradecer.

Guilherme Brassanini

Sobre o autor

Dr. Guilherme Brassanini
Dr. Guilherme Brassanini - Otorrinolaringologia e Sono CRM-SP: 176.911 Médico especialista em Otorrinolaringologia com ênfase de atuação em Rinologia e Medicina do Sono @dr.guilherme.brassanini

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