Casos de covid longa: Estudo associa a 4 fatores biológicos
Uma das muitas dúvidas sobre a covid longa é sobre quem são os pacientes mais propensos a desenvolvê-la, experimentando sintomas físicos, neurológicos ou cognitivos que permanecem por meses após a infecção pelo coronavírus. Uma equipe de pesquisadores acompanhou mais de 200 pacientes por cerca de três meses após o diagnóstico em um novo estudo. Ela encontrou quatro fatores biológicos que podem ser identificados no início da infecção por coronavírus e que pareciam se correlacionar com o aumento do risco de se ter sintomas duradouros.
Segundo os pesquisadores, as descobertas podem sugerir maneiras de prevenir ou tratar alguns casos de covid longa. Elas incluem ainda a possibilidade de dar a esses pacientes medicamentos antivirais logo após o diagnóstico da infecção. Contudo, mais pesquisas precisariam verificar os resultados. “Espera-se que, se forem realmente confirmados, a medicina poderá projetar intervenções para melhorar a qualidade de vida desses pacientes”, diz o médico reumatologista Sebastião Cezar Radominski. Ele é professor de do curso de Medicina da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e diretor do Centro de Estudos em Terapias Inovadoras (CETI).
Que fatores são esses?
Os fatores biológicos identificados pelos pesquisadores são:
- O nível de RNA do SARS-Cov-2 no sangue no início da infecção, um indicador de carga viral;
- A presença de certos autoanticorpos (como os direcionados especialmente contra o receptor de ligação do SARS-Cov-2 na proteína spike). Eles são anticorpos que atacam os tecidos do corpo, como fazem em condições como lúpus e artrite reumatoide, por exemplo, de acordo com o especialista;
- Um terceiro fator é a reativação do vírus Epstein-Barr, que infecta a maioria das pessoas, geralmente quando são jovens, ficando depois adormecido;
- O fator final é ter diabetes tipo 2, ainda que essa seja apenas uma das várias condições médicas que supostamente aumentam o risco de covid longa.
Um dos objetivos do estudo, de acordo com os pesquisadores envolvidos, é dar esperança a pacientes que relatam estar cansados o tempo todo e recebem orientações generalizadas e não muito úteis para o quadro que apresentam. O grupo primário de pacientes incluiu 209 pessoas. Eles tinham idades entre 18 e 89 anos. Além disso, eles se infectaram com o coronavírus durante 2020 ou no início de 2021, alguns hospitalizados e outros atendidos apenas como pacientes ambulatoriais. Os pesquisadores analisaram sangue e amostras nasais no momento do diagnóstico, durante a fase aguda da infecção e também no segundo e terceiro meses seguintes.
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Sintomas
O grupo foi pesquisado para cerca de 20 sintomas associados à covid longa. Desses, 37% relataram três ou mais sintomas de covid dois ou três meses após a infecção. Outros 24% relataram um ou dois sintomas, e 39% não relataram sintomas. Dos pacientes que relataram três ou mais sintomas, 95% tinham um ou mais dos quatro fatores biológicos identificados no estudo, quando diagnosticados com Covid-19.
O fator dos anticorpos foi o que causou mais influência. Os pesquisadores associaram a dois terços dos casos de covid longa. Uma teoria é que pacientes com níveis mais altos de autoanticorpos têm níveis mais baixos de anticorpos protetores contra o coronavírus. Dessa forma, possivelmente isso os torna mais vulneráveis a seguir por um caminho que leva a uma doença de longa duração. Cada um dos outros três fatores apareceu em cerca de um terço dos casos, e houve sobreposição considerável, com vários fatores identificados no mesmo paciente.
Casos de covid longa: Resultados
Uma conclusão foi a de que pacientes com altas cargas virais no início, geralmente desenvolviam covid por muito tempo, sugerindo que a administração de antivirais logo após o diagnóstico pode ajudar a prevenir sintomas a longo prazo ao eliminar rapidamente o vírus. O fato de alguns pacientes terem reativado o vírus Epstein-Barr também fez sentido, segundo os pesquisadores, uma vez que outras doenças também despertam esse vírus, e sua reativação foi associada a condições como a síndrome da fadiga crônica, à qual alguns casos de covid longa se assemelham.
A descoberta é especialmente importante ao se considerar a chance de dar antivirais ou imunoterapia a pacientes com Epstein-Barr reativado. “Dores por todo o corpo, como uma fibromialgia e outras manifestações musculoesqueléticas, além de insônia e até mesmo fibrose pulmonar, que já é um componente descrito em doenças como artrite reumatoide e esclerodermia, também têm sido vistas. Já falamos, inclusive, em fibrose da covid”, coloca Radominski, atualmente envolvido em um trabalho norte-americano sobre fibrose pulmonar derivada da Covid-19.
De modo geral, a pesquisa mostrou que os quatro fatores biológicos sugerem que pode haver maneiras de prevenir a covid longa desde o início. Eles podem gerenciar os sintomas desde quando há o acionamento destes pela primeira vez.
Uma das limitações do estudo, contudo, diz respeito ao pouco tempo de acompanhamento, uma vez que alguns pacientes, depois disso, podem melhorar espontaneamente com o tempo. “É importante ressaltar que ainda não há dados suficientes para alguns sintomas específicos. Sabemos, por exemplo, que a covid longa tem repercussões vasculares como a trombose, neurológicas e outras da otorrinolaringologia, que podem durar até seis meses. Alguns sintomas permanecem e outros vão cedendo, por isso mais estudos são fundamentais”, finaliza Radominski.
Fonte: Agência Einstein