Carga mental: O que é, como identificar e evitar
Trabalhar fora, planejar e realizar as tarefas de casa, além de tirar um tempo para cuidar de si e, em alguns casos, dos outros. São muitas as mulheres que precisam encarar todas essas atividades, o que, muitas vezes, gera um peso grande no dia a dia. O cansaço emocional relacionado a ter que dar conta de tudo é chamado de carga mental, um termo que passou a ser usado em 2017 a partir de um desenho da cartunista francesa Emma.
“No geral, as atividades domésticas ficam a cargo das mulheres. E não se trata apenas de fazer, mas planejar também. Crescemos numa sociedade em que essas tarefas são atribuídas ao sexo feminino. Na minha casa, eu e meu marido sempre dividimos, porque combinamos que, se dividimos os direitos, também dividimos os deveres. Mas quando entramos no piloto automático, às vezes preciso relembrar”, diz Luciana Sato, fundadora da Rede Héstia, que promove a essência do feminino nas suas múltiplas perspectivas.
Ela conta que tem observado as mulheres sobrecarregadas, especialmente após o início da pandemia. “Fomos educadas com a atribuição de cuidar: da casa, dos filhos, da educação, da família, da relação. E temos a ilusão de que precisamos dar conta de tudo. Como se tivéssemos que nos submeter ao ideal de ser mãe, filha, esposa e profissional perfeita. Isso não existe. Sempre há um prato que cai”, avalia.
Como perceber a carga mental no dia a dia
Segundo Fábio Pedroso, psicólogo clínico especialista em saúde mental e em psicoterapia familiar e de casal, para perceber a carga mental a qual está sendo submetida, a mulher deve saber quais papéis tem assumido no ambiente familiar. “A partir daí, uma conversa entre o casal é de suma importância para compreensão e divisão das atividades de casa. Acontece que, como estamos falando de uma questão cultural, em alguns casos, o conversar não é suficiente. Com isso, a terapia vem como uma grande possibilidade não só para tratar, mas também identificar essa atuação que acaba ocorrendo de forma automática dentro dos lares”, explica.
O psicólogo acredita que há uma possibilidade muito pequena de homens vivenciarem questões como essa. “Estamos arraigados a uma cultura na qual a própria mulher também já direciona o menino a não contribuir e dá às meninas os afazeres domésticos. Isso precisa mudar, e é uma construção a partir de nós, do diálogo, do olhar para si e para o outro.”
Leia também: Salário emocional: A remuneração além do dinheiro
Estabelecer limites é necessário
Para Luciana Sato, é preciso colocar limites para que a carga mental enfrentada por mulheres não gere problemas enormes. “Isso significa saber que, quando digo não para o outro, digo sim para mim. E que preciso lidar com os meus sentimentos quando frustro o outro. Por exemplo, trabalhando em casa, há momentos em que meus filhos querem ficar comigo e não posso. Preciso fechar a porta do escritório para estar presente no trabalho. Às vezes eles ficam chateados porque querem brincar, mas a frustração faz parte do desenvolvimento deles para respeitar o limite que estabeleci”, relata.
Pedroso reforça a importância da cooperação entre parceiros para que o peso não fique grande demais para a mulher. “É preciso que o casal tenha disponibilidade para se perceber com suas individualidades, mas também como parceiros que compartilham de uma vida juntos. Assim, eu gosto muito da palavra ‘suportar’ no sentido de dar suporte ao outro. Não estou falando que o homem precisa ajudar a mulher, mas que ambos precisam buscar esse suporte mútuo. Isso no que se refere às tarefas, sentimentos, medos e todas as questões que comportam a vida a dois.”
Por fim, o psicólogo recomenda que cada mulher que passa pelo problema dê uma trégua a si mesma, evitando supostos padrões de perfeição e comparações de gênero. “Mas, acima de tudo, é perceber e aceitar que pode errar, tomando consciência de que não há mal algum nisso.”
Leia também: Yoga pode ajudar a aliviar o estresse no trabalho