Carência nutricional reduz eficácia de vacina contra Covid-19 em crianças
Com a expansão da cobertura vacinal contra a Covid-19, o Instituto da Criança e do Adolescente do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) alerta para a importância de garantir o acesso a uma alimentação adequada para que haja maior eficiência na resposta imunológica. A carência nutricional experimentada pela população brasileira nos últimos anos dificulta a produção de anticorpos pelo organismo, explica a professora Magda Carneiro-Sampaio, titular de Pediatria da FMUSP e imunologista, em entrevista ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição.
Vacina
A professora conta que, embora a vacina estimule a ação do sistema imune, ela depende de outros fatores para garantir a proteção adequada contra agentes infecciosos. “Em um primeiro momento, ocorre a proliferação dos chamados clones de linfócitos T ou B no organismo. São eles que, em sua fase mais diferenciada, irão produzir os anticorpos, que são formados por proteínas.” Desse modo, a ingestão de aminoácidos se faz necessária para gerar e liberar linfócitos na circulação sanguínea. Assim, eles poderão detectar agentes estranhos e facilitar sua destruição.
“A preocupação é que a população vive um momento de muita carência nutricional. Há índices crescentes de famílias em situação de risco alimentar, passando fome ou restrições muito graves de alimentos de grande valor nutricional”, aponta Magda. Segundo o Inquérito Nacional sobre Segurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, publicado em abril de 2021, entre os mais de 116 milhões de brasileiros consultados pelo estudo, 43 milhões não tinham alimento em quantidade suficiente e 19 milhões enfrentavam a fome. Além disso, 16,2% das moradias possuíam residentes com idades entre 5 e 17 anos. “Uma criança, para ter uma boa resposta vacinal, precisa ter disponibilidade de proteínas, vitaminas e sais minerais. Esses nutrientes vêm de alimentos caros, como o leite, carne e frutas.”
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Volta às aulas e carência nutricional
Para a pediatra, a volta às aulas é uma oportunidade de melhorar ou reforçar a alimentação infantil. “Seria muito interessante que a escola oferecesse duas refeições boas, e não apenas lanchinhos. Isso ajuda a família a ter um pouco mais condições para comprar bons alimentos para as outras crianças da casa”, diz Magda. “Poderia existir algum tipo de programa para que as crianças, se têm algum irmão, possam levar comida para casa, para sua família toda”, completa.
Ademais, a alimentação insuficiente torna os jovens mais suscetíveis a infecções e doenças. “A falta de nutrientes não apenas impede que a criança tenha uma reação adequada a vacinas. Ela também induz uma menor resposta do organismo ao invasor diretamente.” Magda finaliza afirmando que, embora as perspectivas a curto prazo para a resolução do problema não sejam animadoras, é necessário encará-lo com certa urgência. A desnutrição pode causar deficiências significativas ao organismo na fase adulta.
Fonte: Jornal da USP