Câncer de boca: conheça as causas, sintomas e tratamentos
Não é de hoje que ouvimos falar sobre a necessidade de visitar o dentista regularmente. Mas você sabia que o acompanhamento não é necessário apenas para manter as bactérias longe da cavidade bucal, mas também para prevenir doenças, como o câncer de boca?
Segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca), a estimativa para o triênio 2020-2022 é de mais de 15 mil novos casos da doença, sendo mais de 70% deles em homens e com maior frequência entre 40 e 79 anos Essa faixa etária, inclusive, respondeu por mais de 80% dos casos registrados em 2018 e 2019.
“A saúde bucal tem íntima relação com a saúde do nosso corpo. A boca interage com todo o nosso organismo e, além de tudo, é uma região extremamente contaminada. Por mais que a gente cuide, sempre terá presença de bactérias. A falta de cuidados pode levar a doenças bucais que podem evoluir para doenças no aspecto geral, especialmente cardiovasculares”, explica Talita Dantas, cirurgiã dentista. Conheça, agora, os sintomas, tratamentos e como prevenir a condição.
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O que é o câncer de boca?
O câncer da boca (também conhecido como câncer de lábio e cavidade oral) é um tumor maligno que afeta lábios e estruturas da boca, como gengivas, bochechas, céu da boca, língua (principalmente as bordas), bem como a região embaixo da língua. É mais comum em homens acima dos 40 anos, sendo o quarto tumor mais frequente no sexo masculino na região Sudeste. A maioria dos casos é diagnosticada em estágios avançados.
Fatores de risco para o câncer de boca
De acordo com Talita, os principais fatores de risco para o câncer de boca são a exposição solar, a ingestão de bebida alcoólica e o tabagismo. Os últimos dois, associados, também potencializam o risco para outros cânceres. Segundo informações do site do Senado Federal, fumo e álcool combinados aumentam em 30 vezes a chance de ter câncer na cavidade oral.
“É preciso muito cuidado, especialmente no momento que temos a moda dos cigarros eletrônicos, que inclusive já registram doenças causadas por eles. Precisamos entender que esses três comportamentos estimulam mutações celulares que serão as responsáveis pelo surgimento de lesões cancerígenas na região da boca”, pontua Talita.
Além disso, a falta de informação é um grande desafio. Isso porque, muitas vezes, as pessoas têm dificuldade de perceber se há alguma lesão na boca, principalmente porque elas não têm o hábito de fazer o autoexame ou naturalizam possíveis alterações encontradas. Do mesmo modo, muitas só procuram atendimento odontológico mediante dor ou incômodo.
Sintomas de câncer na boca
Os principais sinais do câncer de boca são:
- Lesões (feridas) na cavidade oral ou nos lábios que não cicatrizam por mais de 15 dias, que podem apresentar sangramentos e estejam crescendo;
- Manchas/placas vermelhas ou esbranquiçadas na língua, gengivas, céu da boca ou bochechas;
- Nódulos (caroços) no pescoço;
- Rouquidão persistente.
Além disso, nos casos mais avançados, observa-se dificuldade de mastigação e de engolir, dificuldade na fala, sensação de que há algo preso na garganta e dificuldade para movimentar a língua.
Como diagnosticar?
A princípio, o diagnóstico do câncer de boca pode ser feito com o exame clínico (visual). Entretanto, a confirmação depende da biópsia. Esse procedimento, na grande maioria das vezes, pode ser feito de forma ambulatorial, com anestesia local, por um profissional treinado. Alguns exames de imagem, como a tomografia computadorizada, também auxiliam no diagnóstico, e, principalmente, ajudam a avaliar a extensão do tumor.
Assim, o exame clínico associado à biópsia, com o estudo da lesão por tomografia (nos casos indicados) permitem ao cirurgião definir o tratamento adequado. Por outro lado, as lesões muito iniciais podem ser avaliadas sem a necessidade de exame de imagem num primeiro momento. O diagnóstico inicial permite tratamento com melhor resultado funcional, visto que tumores diagnosticados em estágios mais avançados vão implicar em tratamentos mais agressivos com maior chance de sequelas.
Aqui, vale reforçar a importância do diagnóstico da doença na fase inicial, pois permite tratamento mais efetivo e cura. Por isso, é necessário estar atento a qualquer alteração na boca, desde mudanças na coloração até o surgimento de lesões parecidas com uma afta, que não cicatrizem em até 15 dias. Nesses casos, deve-se procurar logo a unidade de saúde para exame da boca por um dentista ou médico.
Tratamento do câncer de boca
Geralmente, o tratamento do câncer de boca é cirúrgico, tanto para lesões menores, com cirurgias mais simples, como para tumores maiores. Nesse caso, é necessária uma avaliação com um cirurgião de Cabeça e Pescoço para avaliar o estágio da doença. Essa avaliação, associada a exames complementares, determinará o tratamento mais indicado. A radioterapia e a quimioterapia, por exemplo, são indicadas quando a cirurgia não é possível ou quando o tratamento cirúrgico oferece riscos de sequelas funcionais importantes e complicadas para a reabilitação funcional e a qualidade de vida do paciente.
Dessa forma, a cirurgia normalmente consiste na retirada da área afetada pelo tumor associada à remoção dos linfonodos do pescoço e algum tipo de reconstrução, se necessário. Nas lesões mais simples, muitas vezes é necessário apenas a retirada da lesão. Nos casos mais complexos, além do tratamento cirúrgico, é necessária realização de radioterapia. Em todas as etapas do tratamento é importante o aspecto interdisciplinar (com a participação de vários profissionais de saúde) visando prevenir complicações e sequelas.
Assim, o acompanhamento frequente com o dentista ajuda a identificar qualquer sinal de alerta na boca do paciente. “É bom frisar que em uma consulta odontológica é dever e obrigação do odontólogo avaliar a boca como um todo, ver os tecidos bucais moles ou duros, mucosas, bochechas, assoalho, língua etc, e não apenas olhar a estética dos dentes. Tudo precisa ser observado para que seja possível fazer o diagnóstico precoce e encaminhamento para o profissional correto, já que essa rapidez melhora as chances de tratamento”, afirma Talita.
Como prevenir?
- Não fumar;
- Evitar o consumo de bebidas alcoólicas;
- Manter o peso corporal dentro dos limites da normalidade;
- Manter boa higiene bucal;
- Usar preservativo (camisinha) na prática do sexo oral.
Fonte: Talita Dantas, cirurgiã dentista, doutora em Reabilitação Oral e diretora do Instituto Dantas de Odontologia.
Referências
Instituto Nacional do Câncer (INCA)
Senado Federal