Beber socialmente e alcoolismo: entenda a diferença

Saúde
07 de Março, 2022
Beber socialmente e alcoolismo: entenda a diferença

A prática de beber socialmente faz parte de uma rotina equilibrada e está presente em encontros com amigos, festas e reuniões familiares. A diferença entre o consumo casual e o alcoolismo está na dose e na frequência, mas essa diferença nem sempre é percebida.

Veja também: Uma dose diária de álcool diminui o volume do cérebro, diz estudo

Sinais da transição de beber socialmente para o alcoolismo

Confira alguns sinais que indicam a transição de beber socialmente para o alcoolismo:

  • O consumo de álcool começa a atrapalhar a vida do indivíduo (relações e tarefas, por exemplo).
  • Crises de abstinência se tornam comuns: pensamentos focados na bebida que geram ansiedade e outras mudanças de comportamento.
  • A quantidade de bebida aumenta para manter o nível de prazer que não é mais suprido com dosagens menores.

De acordo com Zila Sanchez, professora do departamento de Medicina Preventiva da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), os critérios para o diagnóstico se baseiam em alguns pilares. São problemas sociais, biológicos e psicológicos causados pelo consumo de álcool, e se dividem em três diferentes graus: leve, moderado ou grave.

“Se a pessoa apresenta fissura, que é aquela vontade muito grande de consumir álcool; se ela bebe e precisa de mais doses para ter o mesmo prazer que tinha antes, criando-se uma tolerância, esses são alguns dos sintomas”, exemplifica a especialista.

Saiba se você ultrapassou os limites de beber socialmente

Embora as pessoas com o transtorno tenham dificuldade em admitir o problema, alguns questionamentos feitos a si mesmo auxiliam a identificar se você está bebendo socialmente ou não. De acordo com Arthur Guerra, psiquiatra e presidente executivo do Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (Cisa), quem estiver em dúvida pode se perguntar:

  • Você já tentou parar de beber e não conseguiu?
  • Sente-se incomodado com críticas sobre o quanto ingere de bebida alcoólica?
  • Acha que está extrapolando os limites de beber socialmente?
  • Tem que beber logo que acorda para diminuir o mal-estar?

“Caso a pessoa identifique que o consumo de álcool está sendo um problema, vale conversar com familiares e amigos próximos, além de buscar ajuda profissional, como uma consulta médica, e realizar acompanhamento psicológico”, explica Guerra.

Papel da família

Familiares e amigos são, em geral, os primeiros a notarem os prejuízos relacionados ao uso abusivo de álcool. “Primeiro porque, muitas vezes, a pessoa está mais violenta, mais agressiva. Segundo porque ela fica bebendo o dia inteiro e acaba não fazendo as outras coisas da casa – a pessoa precisa ir para o trabalho e não foi, acorda de ressaca e precisa tomar uma cerveja para ficar bem, esquece os compromissos dela”, exemplifica Sanchez.

De acordo com a especialista, os familiares desempenham um importante papel na motivação e no incentivo para que a pessoa busque auxílio de um profissional de saúde, como psicólogo ou psiquiatra. “Essa família vai tentar conversar com a pessoa, mas, na maior parte das vezes, vai demorar até ela topar buscar ajuda. Por isso, esse processo tem que ter uma insistência, mas sempre de uma forma acolhedora”, explica.

Fatores de risco do alcoolismo

O psiquiatra Arthur Guerra ressalta que existe um componente genético associado à dependência de álcool. No entanto, embora esse componente eleve o risco de uso problemático da substância, não é determinante. “O ambiente de formação, a disponibilidade e facilidade de acesso, a permissividade dos pais, entre outros, são importante componentes ambientais para o desenvolvimento da doença”, destaca.

Além disso, existem fatores de proteção que compensam os de risco representado pela genética. “A pessoa que começa a se envolver em outras atividades, que é superativo na escola, que não se envolve, por exemplo, com os amigos que bebem mais, começa a tomar algumas decisões na vida que acabam fazendo que ela se exponha menos ao álcool e nem desenvolva essa dependência”, explica Zila Sanchez, professora de Medicina Preventiva.

Segundo a especialista, quanto mais cedo uma criança ou adolescente ingerir álcool pela primeira vez, maiores são as chances de ultrapassarem o limite de beber socialmente. Mesmo sem, inicialmente, preencherem os critérios de diagnóstico, que dependem de um tempo de consumo que elas ainda não têm.

Diferenças entre homens e mulheres

O álcool se comporta de forma diferente no organismo de homens e mulheres, independentemente de beber socialmente ou não. “As mulheres produzem menos ADH (vasopressina), que é o hormônio que degrada o álcool no corpo, então elas ficam por mais tempo com o álcool no organismo. Elas também têm uma quantidade de litros de sangue menor do que os homens, então, quando você tem menos líquido para diluir o álcool no corpo, a concentração vai ser maior”, explica Sanchez.

Dessa forma, comparando homens e mulheres de tamanhos médios, a mulher têm concentração alcoólica maior que os homens: são 30% a mais, mesmo tomando a mesma quantidade que o sexo oposto. Com isso, elas são mais propensas a apresentar problemas, mesmo com níveis de consumo mais baixos.

Como tratar o alcoolismo

Os tratamentos para a dependência de álcool envolvem diferentes métodos, que podem ser adotados de forma combinada, de acordo com o psiquiatra Arthur Guerra. São eles:

  • Farmacológico (uso de medicamentos que diminuem a fissura pela bebida alcoólica).
  • Psicoterapia.
  • Grupos de ajuda mútua, como os Alcoólicos Anônimos.
  • Hospitalização para casos mais graves.
  • Atividades físicas.

No entanto, o especialista reforça que não existe um tratamento padrão. “Cada paciente vai se encaixar melhor em algum dos tratamentos mencionados. O importante é que seja individualizado e humano, pois assim os resultados são melhores e mais consistentes”, explica.

Como beber socialmente e evitar o abuso de álcool

Para os especialistas, a melhor maneira de driblar os transtornos causados pelo consumo de bebidas alcoólicas na sociedade é por meio de políticas públicas de proteção social relacionadas à obtenção de álcool. Zila Sanchez explica que a Organização Mundial de Saúde (OMS) lista diferentes práticas para que um país reduza o número de pessoas dependentes de álcool.

“A primeira delas é o aumento de preço. Quando você aumenta o preço da bebida, as pessoas têm mais dificuldade de comprar e, ao invés de beberem 10 latas, vão beber cinco. A outra questão é reduzir a disponibilidade. Hoje, por exemplo, o acesso ao álcool é muito fácil no Brasil. Você pede no aplicativo e, em meia hora, está na sua casa, a qualquer hora do dia, mesmo de madrugada ou sete horas da manhã.”

Já o psiquiatra Arthur Guerra destaca que é importante conscientizar a população sobre o impacto do uso nocivo do álcool na sociedade com dados e informações de qualidade, endossadas cientificamente. “A meu ver, o envolvimento conjunto do poder público, iniciativa privada e organizações da sociedade civil traz maior efetividade na prevenção de prejuízos e no tratamento dos danos causados pelo uso nocivo de álcool.”

Fonte: Agência Einstein.

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