Apneia do sono: Dificuldade para dormir nem sempre é insônia
Cerca de 40% da população global tem alguma dificuldade para dormir, de acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). No Brasil, por exemplo, uma pesquisa recente do Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (IBOPE) mostra que o índice nacional é até maior: 65% dos brasileiros afirmam ter uma baixa qualidade de sono. A culpa, normalmente, recaí na insônia, mas esse não é o único distúrbio que atrapalha o sono. Noites mal dormidas também podem ser resultado da apneia do sono — chamada de Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono.
Caracterizada pela obstrução parcial ou total das vias respiratórias enquanto o indivíduo está dormindo, a condição gera repetidas paradas temporárias na respiração. Como resultado, o sono é interrompido inúmeras vezes pela falta de oxigênio no corpo, provocando cansaço e sonolência diurna.
Outros sintomas comuns são:
- Ronco excessivo;
- Despertares noturnos por engasgo;
- Falta de memória;
- Problemas de concentração;
- Irritabilidade;
- Alterações de humor;
- Crises frequentes de dor de cabeça.
Além disso, a fadiga e sonolência durante o dia também têm impacto no estilo de vida da pessoa, o que pode piorar o problema. “O indivíduo tem menos energia para praticar atividade física, passa a se alimentar mal, a consumir cafeína e ainda a tentar dormir mais para compensar esse cansaço, criando maus hábitos que favorecem o surgimento da insônia”, explica Caio Bonadio, psiquiatra especialista em Medicina do Sono.
Prevalência da apneia do sono
Um estudo conduzido por pesquisadores norte-americanos, e publicado na revista científica The Lancet Respiratory Medicine, estima que quase um bilhão (936 milhões) de indivíduos adultos, entre 30 e 69 anos, sejam afetados pela apneia do sono em todo o mundo. No entanto, a maioria não procura ajuda, demorando a receber o diagnóstico e o tratamento adequado, o que provoca um aumento de risco para doenças como hipertensão, insuficiência cardíaca e diabetes.
De acordo com Caio Bonadio, psiquiatra especialista em medicina do sono, os principais fatores de risco para a condição são:
- Sobrepeso e obesidade;
- Ser do gênero masculino;
- No caso das mulheres, ter passado pela menopausa;
- Alterações anatômicas craniofaciais;
- Idade avançada.
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Insônia versus apneia
Em alguns casos, a dificuldade para dormir pode ser a apneia, em outros a insônia. Ou mesmo uma das 50 doenças catalogadas na Classificação Internacional de Distúrbios do Sono. Há situações, inclusive, em que a pessoa pode apresentar as duas condições simultaneamente.
De acordo com Bonadio, cerca de 30 a 50% dos pacientes com apneia acabam apresentando sintomas de insônia. Os quadros, no entanto, têm diferenças: enquanto a apneia é caracterizada por alguns sinais típicos (como o ronco, fadiga e dor de cabeça), na insônia o problema é a dificuldade em iniciar o sono, mantê-lo ou despertar antes do horário habitual, o que leva a repercussões negativas durante o dia (como sonolência, ansiedade e alterações de memória).
O diagnóstico deve ser feito por um especialista em Medicina do Sono após avaliação médica detalhada. Assim, o paciente pode passar também pelo exame de polissonografia – que faz o monitoramento do sono por meio de equipamentos eletrônicos.
Tratamento da apneia
Diagnosticada a apneia, o tratamento deve ser personalizado, acompanhado por uma equipe multidisciplinar. Dessa forma, mudanças no estilo de vida deverão acontecer. “Se a doença está associada ao sobrepeso e à obesidade, o que é comum, é preciso realizar um planejamento de atividade física e de alimentação para controlar isso”, explica o psiquiatra.
Uma das modalidades de tratamento é o uso do aparelho CPAP – sigla em inglês para “Continuous Positive Airway Pressure”, ou “Pressão Positiva Contínua nas Vias Aéreas”. O equipamento envia um fluxo de ar contínuo que impede a obstrução das vias aéreas, evitando também a interrupção do sono.
Em alguns casos, quando a apneia é provocada por alguma disfunção anatômica no crânio, na mandíbula ou até mesmo pela presença de pólipos nasais, é possível suspender o uso do CPAP após a correção cirúrgica. No entanto, como são casos específicos, dependem de avaliação do médico otorrinolaringologista especializado em Medicina do Sono e de um cirurgião bucomaxilofacial.
Por fim, medidas de higiene do sono e controle de estímulos à noite também ajudam o corpo a entrar novamente no equilíbrio dos ciclos de vigília e repouso.
(Fonte: Agência Einstein)