Pesquisadores criam aparelho bucal para emagrecer: Entenda os riscos

Alimentação
05 de Julho, 2021
Pesquisadores criam aparelho bucal para emagrecer: Entenda os riscos

Na última semana, cientistas da Nova Zelândia e do Reino Unido chocaram ao anunciar o lançamento de um equipamento que, segundo eles, promove a perda de peso. O objeto é uma espécie de “aparelho bucal” para emagrecer que limita a abertura da boca, fazendo com que a pessoa não consiga ingerir alimentos sólidos — e tenha que fazer uma dieta líquida.

Apesar de embasado por um estudo que comprovou sua eficácia com relação à perda de peso, o dispositivo gerou discordâncias entre os especialistas. Entenda melhor:

Como funcionou a pesquisa

Feito por um dentista, o aparelho para emagrecer magnético utiliza imãs que prendem os molares inferiores aos molares superiores da arcada dentária, fazendo com que a pessoa consiga abrir apenas dois milímetros da boca.

aparelho para emagrecer
Foto: Universidade de Otago

Para medir a eficiência desse equipamento, pesquisadores da Universidade de Otago, na Nova Zelândia, e do Hospital Escola de Leeds, no Reino Unido, o instalaram em sete mulheres que tentavam perder peso. Os resultados foram publicados na revista The British Dental Journal.

Leia também: Saiba quando colocar o balão intragástrico e os riscos do procedimento

As voluntárias tiveram que usar o dispositivo por duas semanas. Durante esse período, elas responderam a três questionários sobre como estavam se sentindo. Como resultado, elas emagreceram, em média, 6,36 kg. Mas engordaram cerca de 0,73 kg depois da retirada do aparelho para emagrecer.

Poréns do aparelho para emagrecer

Todas as pacientes relataram dificuldade em pronunciar palavras e desconforto intenso causado pelo atrito do objeto com as bochechas. Além disso, elas confessaram sentir constrangimento e menos satisfação em viver.

Contudo, os riscos desse equipamento vão muito mais além. A começar pela saúde bucal, que pode ficar prejudicada. “Com a higienização dificultada, os detritos dos alimentos líquidos e pastosos não são totalmente removidos durante a escovação, podendo gerar cáries, mau hálito e sangramento gengival”, alerta o cirurgião-dentista Anderson Marques, diretor da clínica Boutique, em Fortaleza.

Sem contar que o fato de os dentes estarem sempre fechados força a musculatura do maxilar, podendo causar fadiga muscular. “O exercício desenvolvido na mastigação envolve estruturas como dentes, língua, músculos, ossos e articulações. Eles trabalham de maneira conjunta, possibilitando o desenvolvimento harmonioso da face. Se o paciente está privado desse exercício diário, há chance de desequilíbrios no rosto — de forma temporária e muitas vezes até permanente”, complementa o dentista Henrique Lanat, do Rio de Janeiro. Por fim, ainda há o perigo de asfixia caso a pessoa vomite ou engasgue.

Malefícios nutricionais do aparelho para emagrecer

A nutricionista esportiva e funcional Beatriz Fausto, da Clínica Corporeum, em Brasília, diz que nem toda dieta líquida promove o emagrecimento. “Se o paciente consumir apenas alimentos líquidos e pastosos, mas com altos valores calóricos (bebidas achocolatadas, refrigerantes e leite condensado), pode ser que a perda de peso não aconteça”, diz.

Ainda de acordo com ela, a mastigação é uma das funções mais importantes do sistema digestivo, e ajuda a promover a saciedade. “Ela estimula os músculos mandibulares, potencializa a produção de saliva e desencadeia quimicamente muitas reações, que preparam o trato gastrointestinal para a assimilação de nutrientes”.

Portanto, refeições exclusivamente líquidas, quando mantidas por muito tempo, podem não só prejudicar a absorção de vitaminas e minerais, como gerar a perda de massa magra.

Além disso, vale lembrar que dietas restritivas demais podem resultar no efeito sanfona (ganho acentuado de peso depois de um tempo) e até transtornos alimentares. Segundo um estudo realizado na Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP, a chance de alguém apresentar transtornos alimentares depois de proibições muito radicais é 17,26 vezes maior no sexo masculino, e 12,82 maior no feminino.

“Isso pode causar irritação e frustração. O emagrecimento pede uma mudança de estilo de vida a longo prazo. Requer paciência, persistência e dedicação. E envolve não só um plano alimentar equilibrado e adequado para o paciente, mas exercícios físicos e boas noites de sono. Ou seja, nenhum dispositivo fará milagres por si só”, finaliza a especialista.

Sobre o autor

Amanda Panteri
Jornalista e repórter da Vitat. Especialista em alimentação saudável.

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