Crianças que consomem alimentos ultraprocessados têm maior chance de ter obesidade

Alimentação
13 de Julho, 2021
Crianças que consomem alimentos ultraprocessados têm maior chance de ter obesidade

Há algum tempo, a ciência alerta a população sobre os riscos à saúde associados ao consumo de refrigerantes, biscoitos, balas e todo e qualquer produto alimentício baseado quase que unicamente em ingredientes industriais, os chamados ‘ultraprocessados’. Agora, pela primeira vez, um estudo desenvolvido por pesquisadores do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde (Nupens) da USP, em parceria com o Imperial College London, no Reino Unido, avaliou o consumo de alimentos ultraprocessados a longo prazo, da infância até o início da vida adulta, e seu efeito nos indicadores de obesidade.

Nela, 9.025 crianças britânicas de 7 anos foram analisadas até completarem 24 anos de idade. Como resultado, os pesquisadores mostraram que os indivíduos que consumiam mais alimentos ultraprocessados na infância tinham piores padrões de obesidade.

Leia também: Come alimentos ultraprocessados? Cuidado com diabetes tipo 2

Como funcionou o estudo

A pesquisa teve o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Já o artigo foi publicado na revista médica Jama Network.

O grupo de 9.025 crianças nascidas na década de 1990, na cidade de Bristol, na Inglaterra, passou a ser acompanhado em 1991. Assim, os pequenos foram avaliados (a cada três anos) em quatro categorias. Índice de massa corporal (IMC), índice de massa gorda (IMG), peso e circunferência da cintura, coletados dos 7 aos 24 anos de idade.

Para analisar o consumo alimentar aos 7, 10 e 13 anos de idade, os participantes registravam em diários tudo o que consumiam em um período de 24 horas durante três dias não consecutivos. Incluindo os tipos de alimentos e bebidas, as quantidades e os locais das refeições.

Depois, os dados foram categorizados segundo a classificação NOVA, que descreve os alimentos de acordo com o grau de processamento industrial. Desse modo, os itens poderiam ser alimentos in natura ou minimamente processados; ingredientes culinários processados; alimentos processados; ou, então, alimentos e bebidas ultraprocessados.

Ao final da pesquisa, os participantes, agora no início da vida adulta aos 24 anos de idade, foram avaliados. Os resultados dividiram os 9 mil indivíduos em 5 grupos, de menor para maior consumo de ultraprocessados. Como resultado, descobriu-se que os adultos que consumiam mais alimentos ultraprocessados na infância tinham maior tendência à obesidade. Ou seja, pesavam 4 kg a mais, tinham níveis de IMC e IMG superiores e três centímetros a mais de circunferência da cintura.

Além disso, as crianças que mais consumiam esse tipo de alimento não apenas ganhavam mais peso. Mas apresentavam pior ganho de peso, com maiores danos à saúde.

Leia também: Por que alimentos processados engordam?

Alimentos ultraprocessados na infância e obesidade

Daniela Neri, uma das responsáveis por essa análise, destaca que a proporção dos alimentos ultraprocessados na dieta das crianças britânicas é muito alta: constituem mais de 60% das calorias da dieta. Ainda de acordo com a pesquisadora, há uma clara substituição de alimentos in natura ou minimamente processados por ultraprocessados.

Na infância, a formação de hábitos alimentares tem efeito duradouro ao longo da trajetória de um indivíduo. E, por isso, a preferência das crianças por produtos que não são alimentos de verdade preocupa os cientistas. Além do baixo valor nutritivo, com maior quantidade de calorias e gorduras não saudáveis e menor porção de fibras, vitaminas e minerais, os mecanismos por trás dos alimentos ultraprocessados promovem redução da saciedade, além de consumo em excesso e sem atenção. O tempo de mastigação de uma salsicha, por exemplo, é muito menor do que o de um pedaço de carne, que possui melhor valor nutricional, exemplifica a pesquisadora.

Leia também: Ministério da Saúde lança Guia Alimentar para crianças

Daniela Neri aponta que esse problema é coletivo e exige atuação do governo em nível de saúde pública. “Os guias alimentares precisam deixar bem claro os malefícios da alimentação baseada em ultraprocessados. Como o Brasil fez no guia da população brasileira e no das crianças menores de dois anos”, ela diz. Ademais, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou, em outubro de 2020, um modelo de rótulo para os alimentos processados e ultraprocessados no Brasil, que tem um selo de advertência de eles tiverem excesso de sal, açúcar e gorduras saturadas. “Mas é também importante que o país avance em políticas e ações para desincentivar o consumo de alimentos ultraprocessados, como a taxação desses produtos e restrição do marketing”, completa.

(Fonte: Guilherme Gama | Jornal da USP)

Sobre o autor

Redação
Todos os textos assinados pela nossa equipe editorial, nutricional e educadores físicos.

Leia também:

Alimentação Bem-estar

Lollapalooza 2024: dicas de saúde para aproveitar o festival

O Lollapalooza, um dos maiores festivais de música do país, está se aproximando. Por isso, separamos algumas dicas para você curtir os shows!

Alimentação Bem-estar Saúde

Estratégias para lidar bem com a menopausa

Ondas de calor, indisposição e irritabilidade são alguns dos sintomas mais comuns; veja como lidar

Alimentação Bem-estar

Óleo de amendoim: veja benefícios para a saúde

O óleo é rico em vitamina E, que tem relação com o rejuvenescimento celular e a manutenção da saúde física e mental